Dedo de Deus/Foto de Bruno Agostini

TERESÓPOLIS - São cerca de 68 quilômetros, mil metros de altitude e uma hora de percurso calmo, observando a paisagem das montanhas. Mas é melhor não ter pressa. Porque muitas das delícias de Teresópolis e Nova Friburgo estão no caminho entre elas, o chamado Circuito Terê-Fri, que percorre a RJ-130. A começar pelo cenário. A estrada que liga as duas cidades serranas percorre um extenso vale marcado por montanhas de cocuruto rochoso famosas por gerar formações curiosas, como o Dedo de Deus, a Mulher de Pedra e o Cão Sentado, símbolos desse passeio.

Também há muito verde nas encostas. Criado há cerca de seis anos, o Parque Estadual dos Três Picos preserva a floresta rica e é um playground para montanhistas de todas as classes, dos alpinistas radicais aos andarilhos da Mata Atlântica. Outro tom de verde, normalmente mais claro, vem das margens da rodovia: são as plantações de alface, salsinha, rúcula e outras folhagens do gênero, porque esta região é a maior produtora de verduras do Estado do Rio de Janeiro - mais de 70% das folhas consumidas vem de lá. Neste universo rural também há queijos de cabra, trutas fresquinhas, galinhas caipiras, javalis assados, linguiças servidas com couve da horta...

Queijos de cabra produzidos pela Fazenda Genève abastecem a cozinha de Rolland Villard no Le Pré Catelan

O Circuito Terê- Fri este ano completa uma década, e é bastante flexível: é indicado para casais ou famílias, no inverno ou verão. Dá até para cumprir o roteiro em um fim de semana, principalmente os prolongados por feriados. Mas, para curtir todas as boas paradas pelo caminho com a calma devida, o ideal é programar pelo menos sete dias para a jornada montanhesa.

- Para 2010, estamos com novidades. Além de recebermos novos integrantes, fizemos uma parceria com o DER para sinalizar a estrada, que vai receber placas específicas do circuito, incluindo a sinalização internacional turística - diz Roseméri Pires, da Cremerie Genéve, presidente da associação do Circuito Terê-Fri.

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Além da beleza da estrada, o clima ameno desta época do ano (bota aí uns 10 graus a menos que no Rio, no barato) também ajuda a tornar a viagem entre as duas cidades serranas ainda mais gostosa. É possível iniciar o passeio por Nova Friburgo, mas o caminho a partir de Teresópolis parece mais adequado aos que saem do Rio. Qualquer roteiro em direção a Terê, especialmente os gastronômicos, deve começar no balcão da Casa do Alemão (no km 13 da Rodovia Washington Luís), mastigando uns croquetes e sanduíches de linguiça, salsichão ou lombinho defumado - quem estiver com mais fome ainda pode pedir um kassler com salada de batatas, por exemplo. Para encerrar, umas tortas e biscoitinhos amanteigados.

Chegando ao topo da serra, pegando à esquerda, no Soberbo, está Teresópolis. Seguindo a estrada, à direita, depois de rodar mais cerca de 15 quilômetros, chegamos ao começo da RJ-130, ou Teresópolis-Friburgo, como é mais conhecida. É bom zerar o hodômetro logo na entrada da rodovia, o km 0 do Circuito Terê-Fri - até Nova Friburgo serão mais 68 quilômetros.

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E por que a pressa, se o caminho é tão gostoso? O melhor a se fazer é avançar aos poucos, degustando todas as delícias que acompanham o traçado do asfalto, investigando as estradas de terra secundárias, as fazendas, os sítios, os restaurantes, as lojas e os hotéis do percurso.

Está com fome? No Vale Feliz, logo na altura do quilômetro 4, está um posto de gasolina. Mas nada de loja de conveniências. O pit stop ali é para saborear receitas italianas na Birosca Romana di Sandro, um restaurante simples, mas de comida bastante saborosa e bem feita. O cardápio conquistou muitos apreciadores, como a própria presidente do Circuito Terê-Fri, do qual a "birosca" não faz parte.

- Sou cliente assídua. O Sandro prepara ótimas massas, vou sempre. - diz Roseméri Pires.

A casa, que só abre de quinta a domingo, é especializada em massas, pizzas e carnes - como ossobuco, rabada, carneiro, coelho e perdiz.

- O nhoque e o carneiro são os pratos mais pedidos, as sim como as nossas massas frescas, que são feitas aqui - diz Sandro Masella, um romano radicado no Brasil há 18 anos, que há 13 abriu o restaurante.

Capril da Gèneve/Foto de Bruno AgostiniNa altura de Vargem Grande, no quilômetro 12, vale fazer um sutil desvio de rota (apenas 2,5 quilômetros) para conhecer o Cantinho da Valéria Fernandes, um misto de loja e restaurante que merece uma visita. Ao lado do hotel Le Canton, o lugar vende exatos 304 tipos de conserva, de doce de leite e frutas em calda a geléias, compotas, doces e itens salgados, como caponata, picles e pastas (a de berinjela é das mais vendidas).

- Eu mesma faço todos os produtos. Uma das conservas mais famosas é o doce de leite com maracujá, que é cultivado por mim - diz Valéria Fernandes, que também fez fama com seus pastéis (são nada menos que 48 recheios diferentes, alguns bem inusitados, como avestruz, javali e coelho - aliás, o bichinho é outra das especialidades do restaurante, que também abre para o café da manhã).

A próxima parada indispensável está logo adiante, no km 16, onde está a Fazenda Genève, um programaço. Os queijos de cabra produzidos estão entre os melhores do país, e levam o aval dos principais chefs franceses.

- Eles fazem queijos ótimos, muito melhores que os franceses similares que nos chegam aqui. São muito cuidadosos em todo o processo. A linha é bem ampla, com variedades de diversas regiões da França. Eu adoro - conta Rolland Villard; que não apenas serve os produtos de lá no seu restaurante, o Le Pré Catelan, um dos mais estrelados do Brasil, no Sofitel, em Copa cabana, como também gosta de subir a serra com a família para visitar a fazenda.

Além do capril, aberto a visitas (R$ 2 nos fins de semana e R$ 5 de segunda-feira a quinta-feira) e da lojinha que vende os queijos, no lugar também funciona um dos melhores restaurantes de Teresópolis, que serve prato de inspiração francófila, como o pato com cassis, um clássico da casa, e o cabrito assado com vagem, além de muitas receitas com os queijos feitos ali (o chef Reinaldo Pires está preparando um livro de receitas só com pratos feitos com eles). Nas tardes quentes do verão, prefira uma mesa externa no deque de madeira, com agradável vista do verde das montanhas e, nas noites frias de inverno, a pedida é o salão aconchegante, com lareira.

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Crianças apreciam a visita, não só por poderem ver e alimentar as cabrinhas, mas também por causa do parquinho infantil e da Casa do Beija-Flor, um jardim com plantas que atraem esta ave.

- Às vezes, há mais de 30 deles juntos ali. Agora esta mos finalizando o borboletário - adianta Roseméri.

Linguiça do Padre/Foto de Bruno AgostiniNo km 33, a Linguiça do Padre se diz uma churrascaria. Pura modéstia: o lugar é bem mais que isso. Além de servir carnes na brasa e receitas no fogão a lenha, também fabrica embutidos e defumados (como a linguiça que lhe batiza), além de doces, licores e geléias. O lugar também é um sítio, um dos pioneiros no cul tivo hidropônico no Brasil. Das estufas saem morangos, alface e tomate. Também pode se encontrar ali plantas ornamentais, árvores frutíferas e flores.

Dali a próxima parada já é em terras friburguenses: o Horto Conquista, no km 44, logo após a entrada para a localidade de Salinas, paraíso para montanhistas. Além de plantas de todo o tipo, uma das atrações do lugar são os almoços de sábado e domingo, quando são servidos pratos japoneses ou árabes (esses, apenas em um fim de semana por mês).

Um pouco à frente, o restaurante Vista Soberba - que também é pousada - faz jus ao nome. Mas não só o belo panorama da serra é a razão da parada ali. Valorizando os produtos agrícolas locais, o lugar serve um cardápio variado, com 15 pratos apresentados em um bufê (à noite serve apenas os hóspedes ou grupos de no mínimo 15 pessoas).

A seguir, em sequência, três outros endereços essenciais neste roteiro gourmet-familiar: a Queijaria Suíça de Nova Friburgo (no km 49), o Apiário Amigos da Terra (no km 51) e o LUGChilla Chinchillas (no km 55). São, respectivamente, uma fábrica e escola de queijos (que inaugurou recentemente um museu de taxidermia, ou seja, de animais empalhados, com mais de 200 bichos); um sítio produtor de mel e outros derivados das abelhas; e uma criação de chinchilas, aquele simpático roedor cinzento. Dá para gastar uma tarde inteira visitando as propriedades.

Mais 13 quilômetros, e já estamos em Nova Friburgo. No final deste roteiro sugerido, descendo a serra de Friburgo, a Região dos Lagos está logo ali, e Búzios pode ser o contraponto perfeito para fe char a viagem. Mas isso é assunto para outra reportagem...

SERVIÇO

Restaurantes

La Birosca Romana di Sandro: Estrada Teresópolis-Friburgo km 3,8. Tel. 2644-8484.

Cantinho da Valéria Fernandes: Estrada Diógenes Pereira da Costa 2551. Tel. 3643-6285. www.cantinhovaleriafernandes.com.br

Fazenda Genève: Estrada Teresópolis-Friburgo km 16. Tel. 3643-6391. www.fazendageneve.com.br

Linguiça do Padre: Estrada Teresópolis-Friburgo km 33. Tel. 2641-0065.

Horto Conquista: Estrada Teresópolis-Friburgo km 44. Tel. 2529-4010.

Vista Soberba: Estrada Teresópolis-Friburgo km 46. Tel. (22) 2529-4053. www.vistasoberba.com.br

Queijaria Suíça: Estrada Teresópolis-Friburgo km 49. Tel. (22) 2529-4000. www.queijosfrialp.com.br

Compras

Loja do Porquinho: Cerâmicas. Estrada Teresópolis-Friburgo, km 50, Centro Comercial Queijaria Suíça. Tel. (22) 2542-3421. http://lojado porquinho.blogspot.com/

Ubon, Suavitrat e Reserva-Fólio: Cosméticos. Estrada Teresópolis-Friburgo km 61, Córrego D'antas. Tel. (22) 2521-7302. www.ubon.com.br , www.suavitrat.com.br e www.reservafolio.com.br

Open Market Bazar: Decoração. Estrada Teresópolis-Friburgo Km 9. Tel. 2644-6622. www.openfarm.com.br

Apiário Amigos da Terra: Mel. Estrada Teresópolis-Friburgo Km 51, Avenida Antônio Mário de Azevedo, 17.200. Tel. (22) 2529- 4182. www.amigosdaterra.com.br.

Passeio

LUGChilla: Criação de Chinchillas em Nova Friburgo. Estrada Teresópolis-Friburgo km 55, Campo do Coelho. Tel. (22) 2543-1348.

Mais informações:www.circuitoterefri.com.br

Postado por Unknown sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010
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1 Responses to Terê-Fri, um circuito perto do Rio cheio de paradas para comer, comprar e se hospedar

  1. Amo Terê-Fri, tem restaurantes maravilhosos!

     

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